Certo dia, como todo os dias, estava na parada de ônibus de costume e tive a estranha e interessante experiência de observar o comportamento de um louco.
Ou alguém com pouca sanidade mental. Pensei: Será que uma pessoa é acuada pela vida, de uma maneira tão agressiva a ponto de ficar assim? Perdido no tempo e no espaço? Sem alternativas ou possibilidades? Aquela figura humana falava aleatóriamente para o vão, várias pessoas se encontravam naquela parada de ônibus, mas ele não dirigia o discurso a ninguém, falava para ele e suas próprias frustrações, ao vento.
Dizia que não 'pôde' estudar e ser doutor! rsrsrsrsrsr!!!! Achei isso engraçado, ninguém quer ser garí, só doutor, preconceito a flor da pele... Dizia que as chuvas estavam aí e ele não tinha onde dormir, que a família não queria ele em casa, porque ele bebia.
Imagine o caos? Em minha frente talvez estivesse um excelente marido, pai, avô, quem sabe até um gigante no mundo corporativo. Perdido na própria falta de querer ser...
Pensei novamente: Será que foi falta de oportunidade ou falta de coragem para lutar e não se deixar sucumbir à dificuldade?
Quem vai saber?
A verdade é que há uma grande distância entre o devaneio e a real história de vida daquela pessoa, um verdadeiro carrosssel de ilusões!
O ponto alto da história toda, é que ele dizia que exatamente aquele dia era o seu aniversário, e ele enfáticamente dizia que nunca tivera uma festa de aniversário. Que sua mãe nunca pôde fazer um bolo de festa, ele já se encontra na boa idade.......
Bem, no caso dele não tão boa assim. O saldo que pude tirar do pouco tempo em que estive ali é que o ser humano não nasce naquela situação, e que como gestos simples como ter um bolo de aniversário faz a diferença na vida de uma pessoa.
Para ele certas "faltas" representou também falta de amor, carinho, respeito, consideração...
Me senti por um certo momento responsável por aquela situação, talvez colabore para a desigualdade social.....
Ao mesmo tempo tive piedade e o culpei por ter desistido de tudo sem ao menos lutar um pouco mais, pensei em mim mesma, e quanto tive que lutar para não ser excluída profissional e socialmente. Entendi de uma vez por todas que tudo depende de nós mesmos e que um passo ou escolha errada pode desencadear consequências desastrosas, sem volta. Ninguém é responsável por sua felicidade ou infortúnio, mas você é capaz de mudar qualquer realidade, por pior que se apresente a situação, sempre há uma possibilidade com dignidade.
Tarciana Marinho.